Lagartixa na Janela, grupo dirigido por Uxa Xavier – artista e educadora da dança -, existe desde 2010. Tem como proposta pesquisar o território de criação e pedagogia em dança contemporânea.
O grupo, que, inicialmente, se reunia para trocas de experiências e práticas de aula para crianças, abre um espaço inaugural de investigação e pesquisa de linguagem: aprofundar-se nas relações e interfaces entre a dança e o espaço urbano, tendo o universo da infância, a noção de criança performer, a contemplação ao movimento e a delicadeza como eixos de pesquisa.
As ações artístico-pedagógicas do Lagartixa na Janela são pautadas pela ideia de que o processo criativo e o pedagógico são indissociáveis, ambos precedendo do ato de criação e de conhecimentos específicos, sob a luz das relações entre corpo, criança, adulto e criar.
Dando seguimento a linha de pesquisa do grupo, o projeto “A Poética dos Encontros” foi idealizado para acontecer em parceria com duas instituições distintas: (i) Escola de Dança de São Paulo, onde a dança é parte da escolha das crianças; (ii) Instituto de Cegos Padre Chico, onde as crianças por serem cegas precisam de um corpo treinado para sua sobrevivência, no que diz respeito à mobilidade. Cada instituição tinha sua preciosidade, seja na descoberta de um corpo que pode muito mais do que suas condições físicas, como também da descoberta de que, dançar, além de ser um sonho é uma prática e um estudo que podem caminhar juntos com a invenção.
Os encontros com as crianças foram muito potentes e transformadores. As partituras coreográficas da performance “Varal de Nuvens” do grupo Lagartixa na Janela transformaram-se em proposições das vivências e seus conteúdos artísticos e elementos relacionais (gravetos, sinos e tecidos) foram investigados e explorados pelas crianças. No encerramento dos encontros
o grupo Lagartixa na Janela apresentou a performance “Varal de Nuvens” nas escolas, com a presença das crianças que participaram do projeto, e também para os demais alunos e pais de cada instituição. No Instituto de Cegos Padre Chico a performance foi apresentada com recurso de audiodescrição, que é uma tecnologia assistiva no qual o audiodescritor descreve, com riqueza de detalhes, informações que só podem ser compreendidas visualmente como, por exemplo, cores, figurinos, expressões faciais e etc. Todo o processo de trabalho foi realizado com a participação de uma grande equipe: Uxa Xavier na coordenação, as integrantes do grupo Lagartixa na Janela na orientação das vivências com as crianças, Osmar Zampieri com gravação em vídeo, Pablo Romart nas ilustrações e captação de áudio e Silvia Machado no registro em fotos de todos os encontros.
A potência do projeto aconteceu pelo envolvimento e entrega de cada um destes profissionais, que com sensibilidade acompanharam todo este percurso.
O projeto “A Poética dos Encontros” tornou-se uma grande rede de afetos e pensamentos em dança, que a cada vivência ganhava mais corpo e movimento. Assim foi bordada essa exposição, com fotos, vídeos, ilustrações, textos e danças!
Ouça aqui uma ilustração sonora do projeto
Uxa Xavier
Aline Bonamin
Barbara Schil
Osmar Zampieri
Pablo Romart
Rick Nagash
Silvia Machado
Suzana Bayona
Tatiana Cotrim
Thais Ushirobira
E as cores? Como são?
Nuvem é fumaça de água
Batatinha frita 1, 2, 3 ?! Como é isso gente?!
O balanço se abre para as palmas chegarem
O encontro se fez
Da janela lá do alto se viu
Virou nuvem de cor
Pezinhos acelerados e curiosos para construir
muitos chãos Olhos de crianças-corujas que enxergam no escuro
Mãos que apontam para o horizonte
Tic-tac, tic-tac, desejamos futuro!
Minha criança-corpo
assimila, propõe, imita,
reinventa e atualiza seu
gesto,
Revitalizado de encontro,
jogo e poesia.
Nossa linguagem é o
corpo movente
descobrindo gestos
vistos ou não vistos,
mas sentidos, percebidos
e partilhados.
O encontro se moldou nos corpos, meu e deles - ossinhos dos
pés, maiores ou menores, chulés, diferentes texturas de pele,
músculos mais ou menos assustados, causando surpresa e
curiosidade, em nós.
Os silêncios, aliás, estes momentos de suspensão, quando algo que estava latente tomava forma, era criado: pular galhos, dançar com nuvens, dançar com varal, criar roupas, ser outro, descobrir bichos, entender cores.
Onde existe um espaço de
encontro poético, estado de
presença, conexão, afeto. Onde os
pés tem olhos, cheiro,
imaginação, direção, inteligência.
Pula, gira, esconde,
pendura, cai.
Basta nós olharmos
com atenção para
perceber o jogo. 1,2,3...
Já está acontecendo!
Tá comigo!
O jogo escorre na
brincadeira e a
brincadeira escorrega
de ponta-cabeça
para dança.
Dançar nas brechas
Escutar
Tatear
Ver
Não ver
Falar pra existir
Vontade de movimento
Tem dança além de estrelas?
Os gravetos nos conectam
No desejo de estar com,
algumas palavras vão me pedindo reformas:
professora? alunos? performer? espectador? enxergar?
Deslocadas de sentidos fixos, em movimento,
produzem novas nuances em mim.
Meu corpo-mundo entra em estado de absorção.
A nuvem é da cor que você quiser imaginar.
Idealização: MUD – Museu da Dança e Uxa Xavier
Coordenação geral e artístico-pedagógico: Uxa Xavier
Orientadoras das oficinas e textos: Aline Bonamin, Barbara Schil, Suzana Bayona, Tatiana Cotrim, Thais Ushirobira e Uxa Xavier
Fotos: Silvia Machado
Vídeos: Osmar Zampieri
Assistente de câmera: Daniel Lins
Ilustrações e design: Pablo Romart
Audiodescrição: Ver com Palavras – Livia Motta
Inteligência do site: Dracco Publicidade
Produção: Ação Cênica Produções Artísticas
Assistentes de produção: Rick Nagash
Agradecimentos:
À Escola de Dança de São Paulo, nas figuras de Susana Yamauchi e Paula Petreca, pela disponibilidade, generzosidade e grande contribuição para construção desta exposição. Ao Instituto de Cegos Padre Chico, na figura de Isabel Bertevelli, pelo espaço, confiança e dedicação para realização deste trabalho. Ao Núcleo de Fomento à Dança e toda sua equipe pelo acompanhamento do projeto. E a todos as crianças que participaram deste projeto compartilhando conosco suas danças.